sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os ventos


Pode começar na brisa leve e suave no meio da noite. Também pode começar na aragem fresca da manhã. Às vezes surge a meio da tarde como um de repente inesperado. Por vezes vem depois do sol nascer quando a manhã começa a tornar-se adulta. Tantas vezes é no pico do dia abrasador ou nublado a negro do inverno. Começa inesperadamente sem ninguém perceber. Sopra devagar em círculos tranquilos e enganadores. Levanta-se lentamente até ser notado. Torna-se melodia entre as frestas das janelas e das portas interiores. Reforça-se a cada volta como roda gigante de divertimento festivo. Salta pelos muros e corre em descampados. Percorre os corredores da existência breve intimidada. Varre tudo o que encontra em ruidoso assobio que domina a vida. Ventos... ventos... ventos interiores que sopram a alma inquieta do peregrino. Ventos libertadores da memória que fazem soar palavras inaudíveis. Ventos seguros de verdades escondidas. Ventos sinceros que tudo revelam. Ventos poderosos que sustentam o mundo. Ventos antigos que fazem história. Ventos... ventos... ventos que sopram por dentro purificando a memória. Ventos que secam as lágrimas eternas, choradas hoje. Ventos que sacodem a desordem do mundo. Ventos que salvam as bandeiras rasgadas. Ventos que se impõem ao mastro navegante. Ventos... ventos... ventos que me guiam entre estrelas cintilantes. Ventos... ventos... ventos que favorecem e ventos que fortalecem, ventos que a minha alma acolhe e agradece.

Sem comentários:

Enviar um comentário