sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vº Domingo Tempo Comum

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Reflexões
A vida é «uma realidade árdua nesta terra», afirma Job (I leitura). O personagem e o livro pertencem, desde sempre, à literatura mundial. A história de Job, de facto, é um desafio permanente para todos, porque induz necessariamente a reflectir sobre o problema do sofrimento e do mal no mundo, sobre a relação entre mal físico e mal moral, sobre a fé em Deus e a sua aparente distância ou mesmo impotência perante o mal, sobretudo perante o sofrimento das pessoas inocentes. A vida humana na terra é, para Job, um duro trabalho de escravos (v. 1-2), entre «desilusão e noites de amargura» (v. 3), sem esperança, porque «a minha vida não passa de um sopro» (v. 7).
As três leituras deste domingo são uma resposta de Deus ao sofrimento do homem. A inegável dureza da vida humana – descrita na aventura de Job – só encontra vislumbres de alívio e de esperança na fé em Deus, o qual é sempre Pai da vida. No Evangelho deste domingo, Jesus mostra com gestos concretos qual é a resposta de Deus perante o sofrimento humano: resposta de proximidade, solidariedade, partilha, missão. Vemos isso nos quatro momentos desta jornada de Jesus.
1. Cura a sogra de Pedro. Observemos os pormenores da cena: os discípulos falam dela a Jesus, suplicam-lhe; Ele aproxima-se (faz-se próximo), toma-a pela mão, alivia-a (Marcos usa o verbo grego ‘egeiro’, próprio da ressurreição), cura-a no corpo e no espírito, «e ela pôs-se a servi-los» (v. 31). A saúde recuperada é em vista do serviço a assumir. Toda a cena desemboca no serviço aos outros, porque o serviço é a expressão mais elevada da vida!
2. Jesus cura «muitos que eram afectados por várias doenças», expulsa demónios, etc., mas não quer publicidade (v. 34). Estas cenas, que se repetem frequentemente nos Evangelhos, convidam a reflectir sobre o modo como Deus reage perante o sofrimento: ouve os lamentos, faz-se próximo, sofre, comove-se, chora, intervém, resolve alguns casos… Mas não elimina todo o mal do mundo, aliás o próprio Jesus será dele vítima inocente. Porquê? Porque é que existe o mal no mundo? Enquanto estivermos na terra, as respostas, mesmo as da fé, serão apenas parciais. Não nos resta senão fitar o Crucificado, confiar em Deus Pai. Ele sabe porquê!
3. Depois da jornada cansativa, Jesus concede-se apenas algumas horas de descanso, levanta-se cedo e retira-se para um lugar deserto para rezar (v. 35). Na manhã de sábado Jesus já tinha rezado na sinagoga (v. 29) com a comunidade; agora reza sozinho. Sente necessidade íntima de falar com o seu Pai, de compreender a sua vontade, para lhe ser fiel. Por amor! Na oração, Jesus, o missionário do Pai, compreende sempre melhor qual é a sua missão e como levá-la a cumprimento.
4. Todos procuram Jesus, querem apoderar-se dele. Ele não cede aos pedidos interesseiros e responde mostrando a universalidade da sua missão: «Vamos a outros lugares… para pregar aí também» (v. 38). A missão de Jesus, e a da Igreja, é sempre um ir além, um ir adiante, passar fronteiras, sem limitar-se aos pedidos de alguns poucos, sem instalar-se nas posições adquiridas, nem contentar-se com os resultados. Porque a missão tem como campo natural o mundo inteiro. No Evangelho de hoje aparecem pelo menos seis vezes os adjectivos: todos, muitos. É verdade que o sofrimento é herança para toda a família humana, mas ainda mais certa e universal é a salvação de Deus para todos!
O apóstolo Paulo (II leitura) tinha-o compreendido bem e fez do anúncio do Evangelho aos gentios a razão da sua vida. Sentia a urgência e o dever: «Ai de mim se não anunciar o Evangelho!» (16). Ele anuncia-o na mais completa gratuidade, faz-se «servo de todos», «tudo para todos» (v.19.22). Recordando o episódio da conversão de Paulo (celebrada recentemente), constata-se que no caminho de Damasco não nasceu apenas o cristão Paulo, mas também o Paulo missionário, melhor, o maior apóstolo das gentes.
Após séculos, o testemunho de Paulo toca-nos e estimula-nos. O Baptismo faz de cada cristão um missionário. Para toda a vida! Cada um, segundo a sua condição, torna-se homem/mulher da caridade, da missão. (*) O anúncio do Evangelho aos povos é um serviço refinado de caridade; é a resposta mais completa ao sofrimento e às necessidades do homem. Aliás é o melhor serviço integral que, como cristãos, podemos oferecer ao mundo.
Palavra do Papa
(*) «Toda a actividade da Igreja é manifestação dum amor que procura o bem integral do ser humano: procura a sua evangelização por meio da Palavra e dos Sacramentos, empreendimentos este muitas vezes heróico nas suas realizações históricas; e procura a sua promoção nos vários sectores da vida e da actividade humana. Portanto, é amor o serviço que a Igreja exerce para acorrer aos sofrimentos e às necessidades, mesmo materiais, dos seres humanos».
Bento XVI

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